sexta-feira, 28 de junho de 2013

segunda-feira, 17 de junho de 2013

MESES DE EXPERIÊNCIA

(Por Ivan Silva)

  A procura de um outro fazer, enojado com os quatro meses de recuperação - e foram quase sete anos mexendo com venda de produtos... Decidi tentar trabalhar numa atacadista. Claro que antes tinha que ouvir propostas, passar por acompanhamento psicológico... O que pra mim não fazia diferença nenhuma, pois estava decidido a encarar o serviço fosse qual fosse as condições. Estava apenas deixando a vontade de não querer mais ficar na mesma situação fluir. Situação estado de espírito mesmo, depressão desgraçada. Aceitei sem pensar duas vezes. Entreguei meus documentos já perguntando quando começava, com um alívio de quem esmagou pimenta com os dedos, e antes de lavar as mãos instintivamente vai limpar o nariz. No dia seguinte estava lá. Uns colegas de serviço no bar, outros a fumar cigarro, fazendo piadas, cada um se descontraindo do seu jeito, imaginei, procurando não interferir no que se passava. Foi o portão começar abrir e os passos desataram, agitados. Dentro do galpão o incessante movimento das mercadorias, enquanto eu aguardava instruções do gerente que pagava sapo a dois encarregados em seu escritório. Terminando, me chamou todo cheio de formalismos, pediu que eu me sentasse na cadeira e continou. "Bom, é o seguinte, vou te explicar umas coisas, aqui na empresa não sei se a psicóloga te falou, mês passado por causa de brincadeira um funcionário esfaqueou o outro ali durante o serviço, e você sabe, homem tem disso, dessas bobeiras, é chamar o outro de filho da puta, corno, e por aí vai... Você tem problemas com convivência? Beleza. Isso mesmo, o trabalho aqui é em equipe, somos uma família. Outra coisa, o horário às vezes varia, acaba mais cedo, mais tarde, mas é esse mesmo, das seis da tarde às seis da manhã, puxado, mas tem janta, lanche, e não tem dessa de 'ah, eu não vou jantar, quando chegar em casa eu janto' porque não tem quem agüenta! Todo mês a gente dá vale refeição que já vem descontado no salário, tudo certo?! Então vamos lá fora que vou te explicar o que tem que fazer." E lá estava eu, executando o que um funcionário com mais tempo de firma dizia. No total eram vinte e duas ruas (corredores enormes com prateleiras gigantes), cheias de gente caminhando e separando embalagens de todo tipo de fabricante. E carregue extrato de tomate, leite, doce, bolacha, cachaça, sabão, água sanitária, soda caústica... produtos, produtos, produtos, produtos...
  Mais do que perdido no meio disso tudo larguei um tipo de carrinho de mão que chamavam de burrinha e fui ajudar um dos carregadores de caminhão. "Ó o cara, mal começou já vai fazer carregamento", ouvia isso enquanto me matava mais um pouco. "Esse é bom de serviço". Apesar da maldita dor nos rins, a sensação era de estar contribuindo com a realização de algo importante. Minutos antes do jantar e metade da turma corria pra bater o ponto, loucos de fome, deixando a outra metade que continuava o serviço esperando seu horário: cada metade tinha o seu. Esquecer de fazer isso todo dia não era raro. Refeição farta. Uns apressavam os outros na fila, sempre com piadas sobre a putaria do fim de semana, sobre quem alguém pegou, brigas, casamento, chifres, bebedeiras... e o pessoal da cozinha ali, dando resposta a marmanjo que pedia por uns pedaços a mais de carne. Já vinha descontado no salário.
  Depois da refeição era ficar no pátio... normalmente eu sentava lá no chão mesmo e ficava quieto, fazendo a digestão, enquanto a rapaziada assistia programas pelo celular, conversava com a esposa ou falava das noitadas. Prazeres, sacanagens, putas, vídeos caseiros, uma baforada de fumo queimado diluída na escuridão. E assim ia, até o gerente aparecer na porta e lembrar que as mercadorias estavam esperando. Quanta merda. Noites e noites passaram... mudança de cargo, sonos perdidos, dor de cabeça, funcionários entrando nos tapas por causa de disputas entre si, ônibus fundindo motor justo com um motorista novato que querendo ou não levou a culpa. Na tarde seguinte chega um caminhão desses baú pra transportar os funcionários, com muitos risadas de insatisfação. Nesse dia me perguntei o porque da barreira policial. Me lembrei dos navios negreiros...
  O cargo ocupado por mim nesses quase três meses já era o de separador. Separa aqui, separa ali, "tira a burrinha do caminho se não os conferentes vão enrrabar quem trabalha na rua um (setor de bolachas), anda logo que eu tenho que pegar minha carga". Essa lenga-lenga todo dia não era rara. O próprio encarregado não sabia o que estava fazendo desde o começo, e só eu desconfiava da cilada? Minha vontade de fazer alguma coisa, viver, experimentar, conhecer e até perceber alguns sabores antes não percebidos, esquecidos, escondidos na memória pelos delírios da infância, tinha se resumido a subir em prateleiras, no ponto mais alto delas. Quanta merda. Salário, sesta básica, extrato de tomate, doce, bolacha, cachaça, sabão, água sanitária, panetone... E foi novembro, e foi dezembro, estava indo janeiro... e lá estava a família, a equipe, reparando nas roupas, mostrando o que tinha comprado de novo, se indignando com o salário dos funcionários mais antigos. Meu parceiro de rua trabalhava feito um condenado, a mil por hora, de segunda à sábado (dia de serviço cada vez mais frequente). Conversando com ele fiquei sabendo que em seis anos de empresa nunca tinha pego um dia de folga, coisa certa nesses sábados, pelos menos pra um separador. E eu ainda cumprindo os meses de experiência, na semana passada já tinha pego. Revoltante. Acabamos combinando dele pegar folga no sábado que viria, tive que falar.
  Encerrando expediente, o encarregado. "E aí, como é? Amanhã o menino aqui vem e você tira o dia de folga, José?" Um longo silêncio entalado... "Não, pode ser, não! É sim ou não".
  E o que veio no dia seguinte foi eu ralando, correndo sem parar, separando, puxando burrinha, descendo o que faltava das prateleiras, trocando o que foi separado e não estava nos pedidos, repondo... Nem um grão do serviço feito durante seis anos... Nesse dia, fui o último a sair. Sabendo que ali não continuava mais.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ZINES

Chegaram pra mim essa semana:


O zine Reboco Caído n°17 por Fabio da Silva Barbosa, com entrevistados: Henry Jaepelt, desenhista da capa ao lado; Azriel, da Zineteca Resistência, e Cristiano Onofre, quadrinista. Além dos entrevistados, outras participações falando sobre o que tá rolando por aí. Pra contatos e edições anteriores: fsb1975@yahoo.com.br ou www.slideshare.net/ARITANA




Outro é A Tréplica, edição n°9, editado por Denilson Reis. Com editoral: "Política-Economia-Sociedade-Cultura". Pra contato o e-mail tchedenilson@gmail.com ou o blog www.atreplica.blogspot.com . Segue aí a capa, feita por Diego Muller:


E aqui o Povoando n°5, de Felipe Povo. Feito com seus desenhos, que tem como característica a quase sempre presente textura de madeira na face e nos braços, e o olhar gritante, enquanto outros símbolos vão aparecendo. Uma linguagem solta, totalmente contrária ao mundo acadêmico. E é isso, zines. Segue aí a capa do Povoando:


Pra contatos: povoovop@yahoo.com.br ou www.flickr.com/photos/ovop


domingo, 9 de junho de 2013

Zine Underground #3

Zine editado por David Beat, com participação de vários artistas. Um desenho de cada. Colagens, grafite, nanquim... cada edição novas participações. Essa é a capa com desenho feito por mim:



Quem se interessar em conhecer o trabalho entrar em contato: pennybeat@gmail.com

sexta-feira, 7 de junho de 2013

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Saindo do forno:

Pi² - Politicamente Incorretos Ao Quadrado - Número 4 


Politicamente Incorretos Ao Quadrado Desta Edição:

Barata Cichetto
Carlos Monteiro
Cayman Moreira
Celso Moraes F.
Delcidério do Carmo
Diego El Khouri
Diones Neto
Eddy Khaos
Edgar Franco
Edu Planchêz
Eduardo Amaro
Emanuel R. Marques
Fabio da Silva Barbosa
Felipe Sant'Angello
Fernando Pineccio
Gabriel Fox
Genecy Souza
Giovani Iemini
Ikaro Max
Ivan Silva
Joana D'Arc
Joanna Franko
Joka
Jorge Mendes
Karoline Ferreira
Mauzinho Albert Schmidt
Nua Estrela
Paulo de Tharso (In Memorian)
Robisson de Albuquerque
Rojefferson Moraes
Rosana Raven
Samira Hadara
Walmir Knop Jr


Poético Editorial:
Tiralimo
Barata Cichetto
("Pedras que rolam não criam limo" - Bob Dylan
(Editorial Poético ao Numero 4 da Revista Digital "PI² ou Politicamente Incorreto Ao Quadrado)


Eu fui feito para ser a tormenta, a calmaria jamais
Odeio-a, embora ela seja prenuncio de tempestade
Mas acalme-se, pois sou apenas diferente dos demais
E estou por te fazer a diferença e nunca a igualdade.

Retirar das pedras o musgo e a poeira do asfalto
Feito a chuva de verão e a tempestade de inverno
Cheguei para ser o derradeiro, tomando de assalto
E que tudo mais não vá, mas que fique no inferno.

Dylan disse: por não ter nada, a perder nada tenho
E na inquitude do meu ser proponho uma disputa
Dizendo que não conheço o lugar de onde venho
E afirmando que amo toda mulher que se diz puta.

Fui feito enfim, para superar as barreiras de estupidez
E nunca dou aos tolos uma dose de otimismo flácido
Pois embora seja deles o reinado das terras da frigidez
Não permito-lhes ser óxido, mas a corroer feito ácido.

Não parto do principio, pois de princípios não parto
Pois não sou zero, mas o um que atormenta aos tolos
E no auge da minha arrogância eu cuspo no seu prato
Pois não quero as migalhas, mas metade de seus bolos.

Por fim não estou por roubar o fogo e dar à humanidade
E que cada um risque seu fósforo e que acenda sua fogueira
Pois, quando a mim o papel cabido é de ser na eternidade
O espelho que mesmo invertido mostra sua face verdadeira.

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Pra download da revista tá aí link: http://www.4shared.com/office/yqdG5nmO/pi2_04_Revista.html?